Exposição: Da dobra que chama e traz - obras em papel da Coleção Figueiredo Ribeiro

dobra

Artistas

Alexandre Conefrey, Ana Jotta, André Cepeda, Bruno Cidra, Carlos Bunga, Cecília Costa, Dalila Gonçalves, Fernando Calhau, Francisco Tropa, Inês Teles, João Ferro Martins, João Maria Gusmão, José Loureiro, José Pedro Croft, Luís Paulo Costa, Nikias Skapinakis, Nuno Sousa Vieira, Rita Gaspar Vieira, Rui Horta Pereira, Sara Bichão


Curadoria
Catarina Mel
Ricardo Escarduça
 

“Vou, de facto, começar a expor-te a derradeira explicação
do céu e dos deuses e revelarei os elementos primordiais da matéria
a partir dos quais a natureza forma todas as coisas, as faz crescer e as
sustenta e em que a natureza as dissolve quando as mesmas são destruídas, (…).” (1)

“O múltiplo não é só o que tem muitas partes, mas o que é dobrado de muitas maneiras.” (2)

“A duplicidade da dobra reproduz-se necessariamente dos dois lados que ela distingue, lados que ela relaciona um ao outro ao distingui-los: cisão em que cada termo relança o outro, tensão em que cada dobra é distendida na outra.” (2)

Da dobra que chama e traz – obras em papel da Coleção Figueiredo Ribeiro


Se o papel se mostra tanto suporte quanto matéria da obra de arte, a dobra do seu sentido perturba o que se recolhe em invariabilidade e permanência, o que contrai e detém o diverso. Pois a aceitação de que do nada nada é trazido e de que ao nada nada pode ser chamado não pode fixar o ser do que é no vínculo firme a algum já-pensado do que existe.

De outro modo, a compreensão do sentido das coisas não comparece por procuração que o representa e imobiliza, não surge da explicação que determina a causa em que se gera e a queda em que se extingue, do que endurece a constância do modo como as coisas, de novo e a cada vez, mostram ser o que são.

Na medida em que o um se torna dois e o dois muitos, é o complicare que, seguindo a plica (3), invalida o explicare do que as coisas sempre reservam em si e em que há de ser sondado o que são. A dobra, enquanto conceito operativo, torna-se princípio criador que distingue o diferente sem desunir o separado, e o sentido das coisas que se mostram no seu existir é afetado pela potência do devir e pelo contínuo da variação, pelo pensar sempre descobridor que chama e traz um ainda-não-pensado que se fecha à intromissão do que não lhe pertence.

Em Da dobra que chama e traz, reúnem-se obras da Coleção Figueiredo Ribeiro que manifestam a impermanência enquanto invariabilidade que salvaguarda o diverso da forma formada em papel e sobre papel. Resistindo a configurações lineares e centradas, a exposição organiza uma rede de singularidades que pertencem ao contínuo que as envolve, a uma certa medida de estranheza que co-responde à ausência de explicação das coisas e à maleabilidade da compreensão do segredo que guardam. Enquanto razão final, é o ser-humano que é confrontado pela precariedade do sentido, verdade possível das coisas, e, por extensão, vendo-se nesta, de si mesmo.



(1) Lucrécio. Da natureza das coisas, livro I, vv. 53-56. Tradução (do latim) Luís Manuel Gaspar Cerqueira. Lisboa: Relógio d’Água Editores, 2015.
(2) Gilles Deleuze. A dobra – Leibniz e o Barroco. Tradução Luiz. B. L. Orlandi. Campinas, SP: Papirus Editora, 2012, p. 14 e pp. 58-59.
(3) Plica: sinónimo de dobra. Cf. Dicionário da Língua Portuguesa,Texto Editora, 2018 e Dicionário da Língua Portuguesa, Academia das Ciências de Lisboa: https://dicionario.acad-ciencias.pt/pesquisa/?word=complicar.

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2025-02-15 16:00 - 2025-06-29 18:00
Todas as datas
  • De 2025-02-15 16:00 a 2025-06-29 18:00
Local
Museu Ibérico de Arqueologia e Arte
Telefone
241330100
E-mail
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